"Espanha é paraíso do doping", diz vice-campeão mundial

Sergio Sánchez provocou mais um terramoto no atletismo espanhol. O vice-campeão do mundo dos 3000 metros em pista coberta criticou a nacionalização apressada de atletas, incluindo Alemayehu Bezabeh, e acusa os políticos de promoverem e encobrirem o doping. Sánchez está revoltado por não receber bolsas estatais enquanto Bezabeh e outros atletas suspeitos de dopagem recebiam.
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"Agora parece que é preciso nacionalizar pessoas, mimá-las e dopá-las. Espanha é o paraíso do doping", afirmou no programa 'La voz del atleta', da OID Radio Cantabria. "Bezabeh veio para Espanhal, foi nacionalizado pelos políticos e, ainda por cima, o dopam. Está a ser dopado pelos políticos. Dá-me vergonha vestir a camisola da selecção espanhola. Apresentar-me com ela numa competição internacional iria prejudicar a minha imagem. Parece-me uma vergonha este país", continuou, apesar de admitir que sonha representar Espanha nos Jogos Olímpicos de 2012.

A Real Federação Espanhola de Atletismo (RFEA) abriu um inquérito disciplinar a Sánchez na sequência das declarações de teor racista e dos ataques a Jaime Lissavetzky, que deixou na semana passada o cargo de secretário de Estado do Desporto. "Os que mandam deveriam ser os primeiros a serem castigados. Sou o que sou e não tenho bolsa olímpica do plano ADO [pagas pelo Estado]. E Bezabeh e muita gente implicada na 'Operação Galgo' tem. Só espero e desejo ganhar uma mealha olímpica e que venha Jaime Lissavetzy dar-me a mão e felicitar-me. Nessa altura irei dar-lhe um murro com ela na cara e dizer-lhe: 'Isto consegui-o graças à ajuda de merda que me deste, que é nada. E, vá, aqui tens a medalha de um espanhol nascido em Espanha, branco como o leite'", atirou Sanchéz durante a entrevista.

A "Operação Galgo" é uma investigação da Guarda Civil espanhola que visou uma rede de doping que fornecia o atletismo de elite. No final do ano passado, foram detidas 14 pessoas, incluindo o treinador de Bezabeh, Manuel Pascuas Piqueras, e Marta Domínguez, campeã mundial dos 3000 metros obstáculos. A Guarda Civil agiu precisamente quanto Piqueras levava Bezabeh para este se submeter a uma transfusão sanguínea, realizada pelo principal operacional da rede, o ex-ciclista de BTT Alberto León, que entretanto se suicidou.

Bezabeh foi ainda nesse dia à RFEA admitir o que se passara, afirmando que pensava que o sangue que lhe fora tirado semanas antes era para fazer análises. O responsável pela instrução do processo propôs um ano de suspensão, devido à confissão e colaboração com a investigação por parte do atleta de origem etíope, nacionalizado espanhol. Mas o órgão disciplinar da RFEA ilibou o detentor de três medalhas de ouro europeias no corta-mato, argumentando que a tentativa de dopagem não é punida pela legislação espanhola, ao contrário do que acontece nos regulamentos das federações internacionais, do código mundial antidoping e até da lei portuguesa.

A decisão lançou ondas de choque em Espanha, junto de políticos e até atletas, que contestaram bastante (ver relacionado). Lissavetzky, que já tinha suspenso o pagamento de bolsas ADO aos suspeitos da "Operação Galgo", anunciou que o Conselho Superior de Desportos (CSD) deveria recorrer. Mas nem assim o político deixou de ser um alvo de Sánchez: "No ano passado, quando Bezabeh foi campeão da Europa de crosse, foi recebido no CSD como um autêntico rei, enquanto eu, Ruth Beitia e Natalia Rodríguez, ganhámos medalhas no Mundial de pista coberta, que tem mais mérito que lutar nos Europeus, e ninguém nos recebeu. Porquê? Porque tudo é política, a nós não nos tinham nacionalizado em três meses".

O CSD explicou ao El País que Sánchez tinha direito a 12 mil euros de bolsa olímpica, mas que renunciou por ser incompatível com a ajuda da Junta de Castela e Leão (4800 euros por ano) e que se recebesse o apoio olímpico teria metade da que é paga pela RFEA (19100 euros anuais).

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